-Olha aquela! – ele fala apontando para a onda no mar.
A onda era enorme e ela parecia vir com certa velocidade. Quando ela “morrer”, a forma como a espuma chegava à areia... Tudo era muito lindo.
-Oh! – exclamamos admirados.
Olhamos um para o outro e sorrimos.
Se naquela época eu soubesse que mais na frente que nada seria tão simples assim e que tudo iria mudar, quem sabe, tudo fosse diferente do que é agora.
-Olha aquela outra.
9 anos se passaram desde aquela época, muitas coisas mudaram desde então, mas, também, existe aquelas que permaneceram, como por exemplo: a minha admiração pelo mar, a forma que o observo e a minha amizade com o Dake.
Meu nome é Katyin Crowe, tenho 17 anos, longos cabelos pretos e olhos cinza. Não na Austrália, mas a considero como sendo a minha nacionalidade, já que fui criada aqui e por ter passado mais tempo aqui do que onde realmente nasci.
Conheço o Dake a... Bem. Desde sempre. Só lembro de sempre brincar com ele e ele está em todas as minhas melhores lembranças. Ele é um grande amigo, mas...
-Olá. Você vem sempre por aqui? – ele pergunta assim que encontra uma garota bonita.
Ele é um grande mulherengo. Sempre que conhece uma garota, já dá em cima dela, se não der certo, ele vai para outra, a duração máxima de namoro que ele teve foi 1 mês (isso porque a garota esteve viajando por 2 semanas e eu sempre o lembrava dela), só que... o pior é que eu realmente gosto dele, mas ele só me vê como uma irmã mais nova (mesmo que seja só por alguns meses). E eu, de certa forma, me odeio por isso.
Ouço um som agudo e irritante um pouco distante. Abro os meus olhos devagar e à medida que os abria, mais próximo de mim aquele som ficava. Até que eu acordo e consigo identificar de onde vem aquele som. É o despertador, que me avisa que eu devo me levantar.
Pulo da cama e do mesmo jeito que estou, eu vou para a cozinha com a intenção de tomar o meu café da manhã.
-Finalmente! Pensei que fosse dormir o dia todo!
Olho, ainda cansada, para a pessoa que acabou de falar isso. Era o Dake...
-O que você está fazendo aqui? – pergunto enquanto bocejo e coço o meu olho.
-O que é que VOCÊ está fazendo?! E por que você ainda não está vestida?
Olho para baixo afim de olhar para mim. Eu estou vestindo um pijama.
-Mas eu estou vestida.
-Não apropriadamente.
-Hãn...? Não estou vestida apropriadamente para ficar em casa?
-Quem disse que você vai ficar em casa?
-Não vou? – pergunto um pouco confusa.
-Não. A gente vai surfar.
-Surfar...
-É! Você não viu a previsão do tempo ontem?! Vai ter ondas enormes hoje!
-Mas, tão cedo...
-É claro. Quanto mais cedo a gente chegar, mais a gente aproveita!
Dake começa a me empurrar de volta para o meu quarto e fecha a porta assim que eu entro, ficando no lado de fora.
-Agora, se vista! – ele grita.
Ainda com sono, pego o meu biquíni do armário e o visto dentro do banheiro e ponho a roupa emborrachada por cima. Assim que já estou vestida, volto para a cozinha.
-Ah! Finalmente! Vamos!
Dake segura o meu braço e me arrasta para fora de casa. Eu só tenho tempo para pegar a minha prancha, que estava perto da porta.
-Mas eu nem tomei café! – reclamo enquanto sou arrastada pelo braço.
-Que bom. Assim não teremos que esperar 1 hora para poder entrar na água.
Dakota e eu entramos numa escola de surf quando tínhamos 8 anos e de lá pra cá nunca deixamos de surfar.
Corremos, cada um com a prancha embaixo do braço, pela areia, em direção ao mar e assim que chegamos, avançamos nele, indo cada vez mais fundo, até chegar a uma profundidade boa para surfar. Olhamos para trás e vimos que uma grande onda estava se formando logo atrás de nós.
-Pronta? – ele pergunta sorrindo.
Dou um pequeno sorriso de volta.
-Claro.
-Então vamos.
Nos posicionamos assim que a onda chega e começamos a surfar nela. Começo a sentir ansiedade, entusiasmo e até um pouco de adrenalina percorrer o meu corpo a cada segundo. Tudo muito bom.
Assim que chegamos na areia, voltamos imediatamente para o mar. E foi assim a manhã toda.
-Estou exausta. Não aguento mais. – falo deixando a prancha fixa do meu lado e me jogando na areia.
-Já? – ele pergunta rindo.
Ele fixa a sua prancha na areia e senta ao meu lado.
Fecho os meus olhos por um instante. Como é bom ficar aqui. Não quero que isso mude nunca. Mas... Sempre há mudanças.
Sinto areia sendo jogada aos poucos na minha cabeça, o que me faz abrir logo os olhos.
-Dakota! – grito olhando para ele.
Dake começa a rir.
-Hey! Me chame de Dake. Foi você que inventou esse apelido para mim.
-É, mas agora todo mundo te chama assim. A intenção de inventar um apelido era para ser a única a te chamar assim.
-Você gosta de exclusividade, não é? – ele ri.
Olho para ele e depois abaixo o olhar. Sei que tudo isso ainda vai mudar, que vamos seguir caminhos diferentes, mas gostaria que nada mudasse.
-Dakota... – sussurro.
-Hãn? Quê?
-O que você pretende fazer? No futuro, quero dizer.
-Como assim? Surfar, é claro.
-Para ganhar a vida?! – exclamo enquanto me levanto. –Dakota...
Neste momento a minha barriga ronca alto. Eu sei que estou com fome porque não tomei café da manhã (não sei porque...) , mas não tinha ideia que era tanta.
Dakota começa a rir alto. E quando termina, põe a mão sob o meu ombro.
-Certo, certo. Essa vai ser a última onda, aí podemos ir para a sua casa almoçar.
Nos levantamos. Com a tentativa, sem muito sucesso, de tirar a grande camada de areia que se instalou no meu corpo nesses poucos segundos, passo a mão nas minhas pernas. Pego a minha prancha e o sigo em direção ao mar, novamente.
-Você vai almoçar lá em casa? – pergunto, apesar de já saber a resposta.
-É claro. Aonde mais eu iria?
-Já tentou ir na sua? Sabe, só para variar.
-Nah. Eu prefiro comer na sua casa, com você e o seu pai.
Pegamos mais uma onda. E, como foi combinado, assim que terminamos fomos para a minha casa almoçar.
Eu pedalo o mais rápido possível. Não me incomodo com o vento bagunçando o meu cabelo ou com a camisa estar começando a grudar no meu corpo ou o fato de estar começando a arfar. Apenas quero chegar o mais rápido possível no meu destino.
Freio a bicicleta em frente à casa dele (apesar de vir aqui com uma certa frequência, sempre me surpreendo com o fato da casa dele ser grande) e de imediato toco a campainha. Quem atende a porta é a mãe dele.
-Bom dia, tia. – por conhecê-lo há muitos anos, já chamo a senhora Perkins de tia.
-Bom dia, Katyin. Você sempre muito energética, hein?
-HaHa. Hãn... O Dakota está?
-Ah! Ele não te contou? Aquele garoto...
-O quê? Aconteceu alguma coisa?
-Não! É só que... O Dakota viajou com o pai para a França ontem e só voltam daqui a 2 semanas. O pai dele tem alguns assuntos relacionados à empresa para resolver por lá e ele resolveu ir junto. Acho que finalmente ele resolveu tomar juízo e começou a se preocupar com a empresa.
-Sei... – murmuro. –Talvez. Bem... Obrigada mesmo assim. Tenha um bom dia.
Me viro e vou em direção à bicicleta.
-Oh! Bom dia! – ela grita de longe.
Pego a bicicleta, monto nela e começo a pedalar. Para onde eu vou? Bem, eu não sei. Só quero pedalar. Quanto mais distante, melhor.
Paro assim que chego na praia. Acho que involuntariamente me trouxe pra cá. Encosto a bicicleta no poste e vou andando em direção à areia, até que paro e me sento nela. Fico olhando o mar. Sempre tão bonito e tranquilo, mas ao mesmo tempo tão agitado.
Não sei quanto tempo passei ali, mas resolvo me levantar. Pego a bicicleta e começo a pedalar de volta para casa. Enquanto faço isso, aproveito para organizar as ideias.
A família do Dakota tem uma empresa... Que eu não sei exatamente o que faz, mas os pais dele sempre quiseram que futuramente ele assumisse a empresa, porém ele sempre recusou, então esse não pode ser o motivo dele querer ir para a França.
-Ele é o Dakota, afinal.
Ele deve ter ido para dar em cima das francesas, isso sim.
Assim que chego em casa, boto a bicicleta onde normalmente fica e vou correndo para o meu quarto, pego uma caixa de madeira que estava dentro do meu guarda-roupa, a levo para o meio do quarto, me sento no chão e a abro. A caixa está cheia de fotos. Pego duas em especial, ambas eu com o Dakota, mas uma delas é quando éramos crianças, a outra é mais atual, foi tirada quando a gente tinha acabado de surfar, então estávamos molhados e com roupa de banho.
Tudo mudou desde aquela época. Agora ele está bronzeado da cabeça aos pés (o que é estranho, é que eu não estou, apesar de ficar tanto tempo no sol quanto ele...), além das tatuagens que ele fez...
-Quando foi que você começou a esconder as coisas de mim? – pergunto com uma voz melancólica.
Eu quero saber como eu me apaixonei por um cara assim...
Guardo as fotos novamente na caixa e a ponho no mesmo lugar que estava antes. Ponho a roupa que uso para surfar, pego a minha prancha e vou direto pro mar. Tudo o que eu quero agora é surfar. Surfar e esquecer todos os meus problemas.
-É sério. As ondas de lá são totalmente sem graça. Tão pequenas... Quase não dava para surfar.
-Sei... –respondo totalmente desinteressada no assunto.
-Mas tudo foi compensado quando eu encontrei aquela garota na praia... Ela é realmente linda. Nós nos beijamos no mar.
Faz 1 semana que o Dakota chegou de viagem e durante todo esse tempo ele só vive falando dessa garota.
Isso já...
-Dakota, mesmo se eu quisesse ficar aqui e ouvir tudo isso, - e eu não quero. –eu tenho muita coisa pra fazer. Então, eu já vou indo.
Me levanto da cadeira e ele também.
-Tá, eu vou com você.
-Não! – respondo rápido. –Eu vou sozinha.
Saio do café que estávamos e eu vou andando para casa. Assim que chego, vou logo tomar um banho de cabeça para poder me acalmar.
-O Dakota é um idiota. Um grande idiota. – falo para mim mesma.
Quando termino o banho, vou para o meu quarto e pego o meu caderno de desenho. O abro numa folha em branco (que está cada vez mais difícil de encontrar) e começo a desenhar a primeira imagem que vem em minha mente.
-Filha...?
Viro o meu rosto. Meu pai entra no meu quarto trazendo um prato com biscoitos recheados que ele comprou, já que são os meus favoritos, e na outra um copo de suco de laranja e os pões em cima da escrivaninha. Ele se aproxima e senta ao meu lado.
-Você desenha muito bem. Acho que você puxou isso da sua mãe.
Olho para ele, mas não digo nada.
-Está tudo bem? – ele pergunta.
-Estou. Eu só... preciso pensar em algumas coisas.
-Lembre-se que você ainda tem que pensar sobre mais uma coisa.
Ele me entrega um papel e logo sai do meu quarto. Olho para o papel. O papel, que se eu aceitar, pode mudar toda a minha vida.
-Hey! Você me viu agora? – pergunto indo em direção à areia.
Estou molhada por conta da água do mar e seguro a prancha embaixo do braço.
Assim que chego perto, vejo o Dakota dando em cima de uma garota. Ele nem me viu.
...me irritando.
-Atenção passageiros do vôo 3390, preparem-se para a decolagem.
Olho através da janela do avião assim que ele começa a ganhar velocidade. Tudo indo muito rápido... Isso é muito emocionante.
-Animada? – pergunta o meu o pai, que está ao meu lado.
-Bastante. –respondo sorrindo.
Ir para Los Angeles, a cidade que nasci, para traçar o meu futuro... Nunca pensei que poderia ser assim. Mas, apesar de tudo, estou animada para ver no que isso vai dar.
-Como é que você faz uma viagem e nem me avisa?! – ele grita.
-Do mesmo jeito que você viaja e eu fico sabendo através da sua mãe! E isso porque eu fui para a sua casa! – grito com ele também.
-Uma coisa não tem nada a ver com a outra!
-Como não?! Só você pode viajar?! Eu tenho que ficar aqui e só sirvo para surfar com você?! Você é um idiota!
Saio de lá sem olhar para trás. Só quero ir o mais distante possível. E nunca mais ter que olhar para a cara dele.
Eu tinha chegado no café que eu e o Dakota normalmente vamos, quando percebo onde estou. Entro e me sento numa das mesas. Nem sei o porquê de ter entrado, já que a única coisa quer eu quero agora é ficar sozinha. Abaixo a cabeça e a apoio na mesa.
-Uma garota como você não deveria chorar. – ouço uma voz masculina que não reconheço.
-Não estou chorando. Nem estou com vontade.
Por curiosidade, levanto a cabeça para ver quem estava falando. Não é alguém que eu conheço.
-É verdade... Você não está chorando. Nem está com cara de quem vai chorar. – ele fala sorrindo. –Na verdade, você está com cara de quem está com vontade de bater em alguém.
-Talvez.
-Ah! Eu sou Duncan Raglan. E eu vim anotar o seu pedido.
-Pedido...?
Só então que eu percebo que ele estava usando o uniforme de trabalho do café.
Então ele é o garçom...
-Hahahaha. Mentira que você fez isso.
-É sério. Eu juro. – ele fala rindo.
Depois de 15 minutos de nos conhecermos, Duncan acabou o seu horário de trabalho, então a gente saiu andando pela cidade conversando. Ele é legal e engraçado.
-Então, o que você gosta de fazer? – e pergunta olhando para mim.
-Surfar. E... desenhar.
-Você surfa? – ele parece admirado.
-Uhum.
-Nossa... Eu surfava, mas por conta da faculdade, tive que parar. Acho que não sei mais como fazer isso.
-Surfar é como andar de bicicleta. Uma vez que se aprende, nunca mais se esquece.
-Verdade...
-Eu só acho que você deveria voltar a surfar.
-Só com uma condição.
-Qual?
-Você surfar comigo.
Sorrio com o que ele diz.
-Ok.
-Você não pode surfar com ele! – Dakota começa a gritar.
-É? E por que não?!
-Porque você só pode surfar comigo!
-Eu não sou sua propriedade!
-Mas você é como uma irmã mais nova para mim!
-Acontece que eu não sou sua irmã! Não sou e nunca vou ser! Nem te considero como um!
-Você não pode sair com ele!
-Ah, é? Não diga! E por que não?
-Porque eu sei o que caras como ele querem. Ele parece ser uma pessoa legal, mas no final nem o seu nome lembra.
-Isso porque você faz muito disso, não é?
Eu não deveria ter dito isso...
Me viro e ando em direção ao mar, mas ele segura o meu braço.
-Me solta. – falo seriamente.
-Não. Eu quero saber porque você está tão estranha ultimamente.
-Por que você não pergunta para as garotas que você vive dando em cima? Quem sabe elas podem te dar uma resposta convincente.
-O quê? Você está com ciúmes delas agora?
-Me solta! – tento puxar o meu braço de volta para mim.
-Me responda! Por que você está assim agora?
-Porque eu gosto de você! – grito.
Ele solta o meu braço e assim que ele faz isso, saio correndo.
Não acredito que falei isso. Não sei o que deu em mim. Quero ir embora. Ir embora e nunca mais voltar.
Chego em casa correndo e entro no meu quarto. Fecho a porta com força, me encosto nela e escorrego. Apoio a cabeça nas minhas pernas.
O que foi que eu fiz...?
Neste momento alguém bater na minha porta.
-Katyin. Preciso falar com você.
Era o meu pai.
Me levanto e abro a porta. Ele faz um sinal para que eu o siga, e é o que eu faço. Vamos para a cozinha e cada um senta num lado da mesa. Meu pai está segurando uma carata que ainda não foi aberta.
-Chegou para você agora a pouco.
Ele me entrega a carta, que trato de abrir logo. Começo a ler o que tem escrito, até que paro...
-E aí? O que tem? – meu pai pergunta.
-Eu... passei.
-Então... O que você vai fazer?
Fiquei vendo os meus móveis entrando no caminhão de mudança. A partir de agora a minha vida vai mudar por completo num lugar totalmente diferente. Não tenho ideia do que vai acontecer.
Vou andando para a praia. Quero deixar os meus pensamentos longe. Estou indo embora. E desde aquele dia eu não vi ou falei com o Da... Dake.
Sento na areia e começo a observar o mar. Não queria ir embora com raiva dele...
-Eu sabia que você estaria aqui.
Olho para cima. É ele. E estava arfando, parecia tá cansado. Ele... correu até aqui... para me ver.
Me levanto rapidamente. Ele apoia o seu braço no meu ombro e tenta recuperar o fôlego.
-Você... vai realmente... ir embora? – ele pergunta ainda sem fôlego.
-Vou. Eu consegui passar numa universidade lá em Los Angeles. Vou estudar animação gráfica.
-Bom... Bom... Eu... queria me desculpar por... tudo o que aconteceu nesses últimos dias.
-Eu também queria me desculpar por tudo isso e... pelo o que disse da última vez. Eu não deveria ter dito.
-Por que você está se desculpando?
-Porque o que eu disse foi... Eu não deveria ter dito.
-Mas o que você disse foi tudo verdade. E... eu fiquei pensando no que você falou e... eu descobri uma coisa. Sabe o porquê de eu querer surfar só com você e não querer que você surfe com mais ninguém?
Paro para pensar um pouco sobre isso, mas não achei nenhuma resposta.
-Na verdade, não.
De repente, inesperadamente, ele me beija.
-Porque eu também gosto de você.
Eu... não acredito. Droga... Algumas lágrimas caem sobre o meu rosto.
-Você é tão injusto... Eu vou embora hoje. – murmuro.
-É...
10 anos depois...
Vou para seção de desembarque e pego a minha mala. Dispenso o táxi. Prefiro caminha na minha cidade e ver o que mudou.
Ponho as malas no local que irei ficar. Começo a andar pela cidade, realmente, tudo mudou. Finalmente, a minha última parada é na praia. Sento na areia e fico admirando o mar.
-Realmente, tudo fica estranho sem você...
Apesar de todos esses anos, eu ainda gosto dele. O tempo que passei ao lado do Dake não sai da minha cabeça. E o beijo que ele me deu no dia que fui embora... Isso são coisas que não vão desaparecer nunca.
-Sabia que iria te encontrar aqui.
Olho para cima pra ver quem tinha falado isso.
Não pode ser... É ele!
Me levanto rapidamente.
-Como é que...? – não consegui completar a frase. Não tinha palavras para continuar a falar.
-Desde pequena você gostava de admirar o mar. Então, eu soube que aonde quer que você estivesse, sempre estaria o admirando.
Por conta da mistura de emoções e nostalgia que estava sentindo, não consegui conter as lágrimas.
-Dake... – murmuro.
-Há. Agora que todos estão me chamando de Dakota, você me chama de Dake. Você gosta de mesmo de exclusividade, hein?
-Mas é claro. Eu criei esse apelido só para eu te chamar assim... – eu quero parar de chorar, mas não consigo. É tão bom vê-lo.
-Por favor. Pare de chorar. A única vez que eu te vi chorando foi quando você foi embora, e eu não quero que isso aconteça tão cedo.
Enxugo as lágrimas com a parte de trás da mão.
Sentamos na areia, de frente para o mar.
-Então, - começa ele. –você ainda surfa lá onde você mora?
-Sim. Sempre que posso. – respondo sorrindo.
-E... você surfou com alguém?
Olho para ele com surpresa, mas ele nem desvia o olhar para frente.
Ele parecia um pouco tenso ao fazer essa pergunta.
-Não. – respondo sorrindo.
Ele olha para mim.
-E eu espero que você também não tenha surfado com outra pessoa.
-Eu só surfo com você.
Ficamos quietos por um instante. Não por não ter algo para falar, mas por não saber por onde começar.
-Então... Animação gráfica... – ele quebra o silêncio.
-Pois é...
-Sabe, você sempre foi boa em desenhar...
-é. É muito legal e emocionante. Eu estou feliz de ter escolhido esse curso.
Ele dá um leve sorriso.
-Sabia que... – ele parece um pouco tímido ao falar. –eu assumi a empresa da família. Estou trabalhando lá, agora.
-Não, não sabia. – minto.
Eu vi uma revista que falou sobre isso e algumas reportagens na TV. Foi uma grande notícia na mídia. Eu estou muito orgulhosa dele.
-Mentira. – ele fala. –Foi uma grande notícia. E mesmo você não querendo, você iria saber.
Abaixo a cabeça e rio baixo.
-Posso pedir uma coisa? – pergunta ele.
-O quê?
-Lembra do que aconteceu no dia em que você foi embora?
Ele... está falando naquela hora que ele me beijou...? Por que ele está falando sobre isso?
-O que tem?
-Nós podemos continuar de onde paramos?
Ele se aproxima e me beija.
-Eu ainda gosto de você. – falo timidamente.
-Eu também.
Nós nos beijamos novamente.
FIM.