— Você realmente gosta desse filme, não é? — Daniel falou para mim com um sorriso no lábios.

Deus, eu amo esse sorriso. Doce, mas com um traço tímido. Como se ao olhar para mim ele sentisse algo. Talvez eu estivesse vendo coisas demais.

— Por quê? — perguntei de forma debochada. — Não pode? Diário de uma paixão é quase um clássico. Vou dizer ao seu chefe que está se negando a alugar um dvd só porque a pessoa já o viu, o quê? Cinco vezes? — falei tentando parecer um pouco desgostosa.

— Seis, na verdade. — ele disse ainda sorrindo e eu derretendo aos poucos. — Sete com essa.

— Mas quem está contando, né? — falei, pegando o filme e colocando na bolsa. — Até amanhã.

— Ana! — escutei ele chamar meu nome quando estava pronta para sair e senti o meu coração acelerar.

Ele abriu a boca e fechou novamente. Seus olhos azuis pareciam querer me dizer alguma coisa, mas ele permaneceu no que parecia um dilema.

— Sim...? — incentivei sentindo o meu coração doer a cada batida.

Quantas vezes eu já tinha sentido a mesma coisa? Era só estar na presença dele que algo dentro de mim parecia se aquecer. Era sempre a mesma coisa. Tudo acontecendo no mesmo ritmo. Sua voz grave e suave me aquecia, aqueles olhos azuis me prendiam, seu cabelo negro era o contraste perfeito com a pele branca e aquele sorriso... Sempre que o via parecia que eu iria derreter.

Sempre vinha aqui, pegava o mesmo dvd e ficava falando com ele alguns minutos. Tudo para vê-lo. Eu nem via mais o filme.

— V-você.... aaah.... Eu sei que você sempre vem aqui alugar filmes e tal. — ele se enrolou todo com as palavras e me aproximei um pouco mais do balcão. — Sempre o mesmo filme, não é? — ele sorriu desajeitado.

— É, Daniel. Sempre o mesmo filme. — falei sentindo que meu coração ia sair pela boca.

O que ele pretendia?

— Bem, — ele pigarreia — amanhã terá a estreia de um filme novo. Na verdade, a história lembra muito o filme que você vê. Eu estava pensando se você, bem... Se não tiver nada para fazer e tal. E...

— Claro. — falei sem sentir. Minha voz quase um sussurro.

— O que!? — ele perguntou confuso.

— Eu vou. Não é isso o que você queria perguntar? — perguntei.

Então ele deu o sorriso mais lindo e mais caloroso que eu vi desde que o conheci. Quase caí de joelhos no chão. Quase.

— Então nos vemos lá as 19:00h, ok? — ele disse.

— Nos vemos lá, então. — falei saindo da locadora.

— E, Ana. — ele chamou e eu olhei para trás. — Esperarei ansiosamente. — disse sorrindo.


Cheguei em casa sem lembrar muito bem como. Mas quando senti a porta fechar atrás de mim, escorreguei por ela e terminei no chão ainda sentindo o meu coração batendo forte em meu peito. Íamos sair juntos. Eu e o Daniel em um encontro. E ele esperará “ansiosamente”. Sorri com a lembrança e suspirei. Não fazia ideia de como seria o futuro, mas mesmo naquele tempo suspeitava que ele estaria presente em cada um dos momentos especiais da minha vida. Eu mal podia esperar por isso.